sábado, 12 de novembro de 2016

O Filho de Machado de Assis - 6

Revista Bravo!

Oct 27

A nossa miséria

Especialista nos diálogos, Luiz Vilela brinca com o impacto da descoberta anunciada já no título de seu novo romance, O Filho de Machado de Assis


         
















“O final de Brás Cubas… é mentira!” A fala é uma das muitas de O Filho de Machado de Assis, cujo título já serve para explicar do que está tratando o professor Simão: que Joaquim Maria Machado de Assis, ao contrário do que se pensava, teve um Joaquinzinho. Que Machado, sim, transmitiu para uma criatura o “legado de nossa miséria”.




       



          Na ficção de Luiz Vilela, o que se diz sempre é importante. Especialista em diálogos, o escritor mineiro sempre os usou a serviço de uma economia essencial, em que a literatura vai se apoiar principalmente na interlocução. É assim, por exemplo, no romance Graça (1989) e nos contos de A Cabeça(2002). E está de volta em O Filho de Machado de Assis, seu novo romance.
           “É mentira!”, diz Simão a Mac, um ex-aluno servindo de narrador para o leitor e interlocutor para o professor. Que jura haver um documento na biblioteca provando o fato. A descoberta revolucionária, eles comentam, vai jogar no lixo uma porção de teses acadêmicas, promover mil debates, provocar revisões sem conta em livros didáticos. “Eu pensei nessa história em 2008, véspera do centenário de Machado”, diz Luiz Vilela a Bravo!. Momento perfeito para esse “desastre” fascinante.
        Uma das questões implícitas aqui, naturalmente, é o impacto da vida pessoal de um escritor na análise da sua obra. Mas não só. Misturadas ao colóquio e às digressões, estão lá também, em tom divertido, a machadolatria, o politicamente (in) correto, o futuro da literatura, a universidade, as certezas desmentidas pela história. “Todas essas questões”, diz Vilela, “são importantes, todas partes integrantes da narrativa.”
       E mais se fala: que o filho seria negro; que talvez Machado tenha guardado segredo para casar com Carolina; mas Machado não era gay? Não teve, em vez disso tudo, uma filha com uma atriz de teatro? E que diferença existe afinal entre a verdade e o rumor, o boato?
          E é assim que, como costuma acontecer nos textos de Vilela, as grandes questões ombreiam com a irrelevância, a banalidade, o trivial — não como juízo moral, apenas — quase — como ilustração. E, por fim, a indiferença num sábado de praia. Um pedacinho cada de nossa miséria.
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O Filho de Machado de Assis, Record, 128 págs., R$ 39,90
                                                               https://medium.com/revista-bravo/a-nossa-mis%C3%A9ria-88d33dff1553#.emuvafa3k

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